"Viver é processo permanente de mudança. É essencialmente inerente ao estar vivo a dimensão da transformação. Porém, segundo Piaget, em seu último livro intitulado "As formas elementares da dialética", as mudanças são de dois tipos, as quais ele denominou de discursivas e de dialéticas. Elas também podem ser caracterizadas como de acabamento ou estruturais. Isto é, há mudanças que se fazem a partir de bases estruturais já postas. E há mudanças em que o que se muda são as próprias estruturas.
Sempre é bem difícil assumir as exigências deste estado mudancial da existência. Fazemos de tudo para tentar assegurar a tranqüilidade do repetitivo e da ausência de surpresas, apostando na comodidade do já conhecido. Enfrentar o novo, até então ignorado, implica numa aptidão para a aventura e numa juventude de espírito que, às vezes, é ausente, até dos mais jovens fisicamente.
É difícil suportar as mudanças das fases discursivas mas, sobretudo, é difícil encarar as exigências das mudanças das fases dialéticas. Dar-se conta das insuficiências de um sistema estrutural é muito incômodo e ousado, porque significa Ter que desconstruir tudo o havia sido construído em cima dele.
A vivência destas fases também é prerrogativa das instituições. O GEEMPA viu-se mais uma vez confrontado com esta tremenda demanda de uma fase dialética. A demanda de romper para fecundar. Ela implica em honrar as necessidades do momento, as quais exigem não seguir apenas em cima do que já havia sido produzido a partir do construtivismo pós-piagetiano, mas sim, encaminhar novas elaborações. A diferença de uma proposta didático-pedagógica para produzir a alfabetização foi uma primeira conquista muitíssimo importante. Com ela é possível enfrentar com êxito o desafio dos baixíssimos índices de aprendizagem da leitura e da escrita no 1º ano do ensino fundamental, especialmente nas redes públicas educacionais. Entretanto, é muito necessário e urgente que algo semelhante se dê para as demais séries, a respeito das aprendizagens da língua, assim como para as aprendizagens nas demais disciplinas. Esta é a tarefa que se impõe o GEEMPA, neste momento: a da pesquisa grave e fecunda que resulte em propostas didático- pedagógicas construtivistas pós- piagetianas para todos os conteúdos de toda a escolaridade, sem o que não é legítimo falar-se de construtivismo nas escolas. E se for falado, temos que denunciar como indevido.
O construtivismo pós-piagetiano se caracteriza precipuamente pela compreensão de que aprende-se através de elaborações pessoais embebidas de viva interação sócio-cultural. Isto é, não se aprende diretamente pela captação da lógica dos conteúdos científicos, academicamente dispostos e expostos, mas de hipóteses fabulatórias que se geram do encontro de informações no dia-a-dia dos grupos humanos a respeito dos conhecimentos visados.
Em outras palavras, começa-se em geral, a aprender algo escolar, muito antes de termos um professor na nossa frente apresentando-nos achados acabados dos livros quer tópico de conteúdo escolar circulam informações via mídia ou via trocas societais que conduzem a hipóteses de interrelações entre elas eivadas de incompletudes e equívocos. Ignorá-las, impondo os conceitos científicos em seu acabamento final, é fadar o ensino ao fracasso que está sendo vivido no sistema escolar brasileiro, conforme dados de múltiplas avaliações.
Estas construções fabulatórias, etapas indispensáveis das trajetórias rumo aos conhecimentos, configuram a antropologia das aprendizagens que Ernani Fiori aponta como a principal contribuição paulofreiriana às questões da epistemologia.
Ensinar, portanto, consiste em aplicar estratégias que levem os alunos a passar de suas hipóteses menos elaboradas a outras melhor organizadas, que implicam numa dosagem de fornecimento de informações, a qual precisa ser presidida sabiamente, não pela lógica científica do conteúdo a ensinar, mas sim, pelo entrelaçamento entre esta e a lógica do processo sociopsicológico no qual está envolvido o aluno.
O desnudamento das características do processo "sui generis" da aprendizagem e dos mais varia dos campos conceituais dos currículos escolares é o objeto das pesquisas nas quais investe o GEEMPA neste dois últimos anos.
Debruçar-se neste afã, levou o GEEMPA a renunciar temporariamente suas atividades com as vanguardas pedagógicas e a renunciar também a múltiplos convites para palestras, assessorias e consultorias pelo Brasil afora. Mas isto não significa menor compromisso com professores e alunos. Muito pelo contrário, trata-se de assumi-lo seríssimamente na medida em que ele se aprofunda na pesquisa da sociopsicogênese da língua até a 5ª série e envereda também na mesma trilha na área dos estudos sociais e da matemática, com promissoras possibilidades de definição de novas contribuições às demandas dos professores, a braços com seu engajamento de fazer aprender, de verdade, a seus alunos.
É neste contexto que aparece o presente número da Revista do GEEMPA, apontando para novos rumos que resultam do laborsubterrâneo da investigação científica em que o GEEMPA está empenhadíssimo.
Ronai Rocha, José Luiz Caon, Maria Luiza Coelho e Ivete Keil, nos escrevem sobre suas reflexões brotadas no âmago de nossos encontros semanais em que se trocam hipóteses, elaborações, mas ,sobretudo, muitas perguntas.
Maria Júlia Canibal reafirma, com a história de Bruna, o centro dos achados contemporâneos sobre o aprender, de que "inteligência é processo e não dom" e de que "fica-se inteligente, aprendendo". Donde, segue-se a conseqüência de que "todos podem aprender".
Gérard Vergnaud aduba nossos intentos com o fecundíssimo conceito de campo conceitual e da formação de competências para o trabalho, em seus dois artigos neste número.
Cristóvam Buarque e Maria Rita Kehl nos abrem horizontes especiais mais amplos da ação docente, a saber, o horizonte de um projeto grande de sociedade e o do equacionamento de uma das mais necessárias bandeiras de luta dos democratas, hoje - o da justiça entre homens e mulheres.
E "nem tudo é invisível para os olhos" é uma concretização exitosa, em parte da rede pública, do que vem sendo elaborado no GEEMPA e no Projeto "Vira Brasília a Educação".
Que cada um dos leitores da Revista do GEEMPA seja um parceiro nesta caminhada rumo à redefinição da escola, a fim de que ela possa ser um dos espaços onde democracia se concretize, na oportunização de efetivas aprendizagens para todos."
Esther Pillar Grossi
(extraído do site do GEEMPA)
Sempre é bem difícil assumir as exigências deste estado mudancial da existência. Fazemos de tudo para tentar assegurar a tranqüilidade do repetitivo e da ausência de surpresas, apostando na comodidade do já conhecido. Enfrentar o novo, até então ignorado, implica numa aptidão para a aventura e numa juventude de espírito que, às vezes, é ausente, até dos mais jovens fisicamente.
É difícil suportar as mudanças das fases discursivas mas, sobretudo, é difícil encarar as exigências das mudanças das fases dialéticas. Dar-se conta das insuficiências de um sistema estrutural é muito incômodo e ousado, porque significa Ter que desconstruir tudo o havia sido construído em cima dele.
A vivência destas fases também é prerrogativa das instituições. O GEEMPA viu-se mais uma vez confrontado com esta tremenda demanda de uma fase dialética. A demanda de romper para fecundar. Ela implica em honrar as necessidades do momento, as quais exigem não seguir apenas em cima do que já havia sido produzido a partir do construtivismo pós-piagetiano, mas sim, encaminhar novas elaborações. A diferença de uma proposta didático-pedagógica para produzir a alfabetização foi uma primeira conquista muitíssimo importante. Com ela é possível enfrentar com êxito o desafio dos baixíssimos índices de aprendizagem da leitura e da escrita no 1º ano do ensino fundamental, especialmente nas redes públicas educacionais. Entretanto, é muito necessário e urgente que algo semelhante se dê para as demais séries, a respeito das aprendizagens da língua, assim como para as aprendizagens nas demais disciplinas. Esta é a tarefa que se impõe o GEEMPA, neste momento: a da pesquisa grave e fecunda que resulte em propostas didático- pedagógicas construtivistas pós- piagetianas para todos os conteúdos de toda a escolaridade, sem o que não é legítimo falar-se de construtivismo nas escolas. E se for falado, temos que denunciar como indevido.
O construtivismo pós-piagetiano se caracteriza precipuamente pela compreensão de que aprende-se através de elaborações pessoais embebidas de viva interação sócio-cultural. Isto é, não se aprende diretamente pela captação da lógica dos conteúdos científicos, academicamente dispostos e expostos, mas de hipóteses fabulatórias que se geram do encontro de informações no dia-a-dia dos grupos humanos a respeito dos conhecimentos visados.
Em outras palavras, começa-se em geral, a aprender algo escolar, muito antes de termos um professor na nossa frente apresentando-nos achados acabados dos livros quer tópico de conteúdo escolar circulam informações via mídia ou via trocas societais que conduzem a hipóteses de interrelações entre elas eivadas de incompletudes e equívocos. Ignorá-las, impondo os conceitos científicos em seu acabamento final, é fadar o ensino ao fracasso que está sendo vivido no sistema escolar brasileiro, conforme dados de múltiplas avaliações.
Estas construções fabulatórias, etapas indispensáveis das trajetórias rumo aos conhecimentos, configuram a antropologia das aprendizagens que Ernani Fiori aponta como a principal contribuição paulofreiriana às questões da epistemologia.
Ensinar, portanto, consiste em aplicar estratégias que levem os alunos a passar de suas hipóteses menos elaboradas a outras melhor organizadas, que implicam numa dosagem de fornecimento de informações, a qual precisa ser presidida sabiamente, não pela lógica científica do conteúdo a ensinar, mas sim, pelo entrelaçamento entre esta e a lógica do processo sociopsicológico no qual está envolvido o aluno.
O desnudamento das características do processo "sui generis" da aprendizagem e dos mais varia dos campos conceituais dos currículos escolares é o objeto das pesquisas nas quais investe o GEEMPA neste dois últimos anos.
Debruçar-se neste afã, levou o GEEMPA a renunciar temporariamente suas atividades com as vanguardas pedagógicas e a renunciar também a múltiplos convites para palestras, assessorias e consultorias pelo Brasil afora. Mas isto não significa menor compromisso com professores e alunos. Muito pelo contrário, trata-se de assumi-lo seríssimamente na medida em que ele se aprofunda na pesquisa da sociopsicogênese da língua até a 5ª série e envereda também na mesma trilha na área dos estudos sociais e da matemática, com promissoras possibilidades de definição de novas contribuições às demandas dos professores, a braços com seu engajamento de fazer aprender, de verdade, a seus alunos.
É neste contexto que aparece o presente número da Revista do GEEMPA, apontando para novos rumos que resultam do laborsubterrâneo da investigação científica em que o GEEMPA está empenhadíssimo.
Ronai Rocha, José Luiz Caon, Maria Luiza Coelho e Ivete Keil, nos escrevem sobre suas reflexões brotadas no âmago de nossos encontros semanais em que se trocam hipóteses, elaborações, mas ,sobretudo, muitas perguntas.
Maria Júlia Canibal reafirma, com a história de Bruna, o centro dos achados contemporâneos sobre o aprender, de que "inteligência é processo e não dom" e de que "fica-se inteligente, aprendendo". Donde, segue-se a conseqüência de que "todos podem aprender".
Gérard Vergnaud aduba nossos intentos com o fecundíssimo conceito de campo conceitual e da formação de competências para o trabalho, em seus dois artigos neste número.
Cristóvam Buarque e Maria Rita Kehl nos abrem horizontes especiais mais amplos da ação docente, a saber, o horizonte de um projeto grande de sociedade e o do equacionamento de uma das mais necessárias bandeiras de luta dos democratas, hoje - o da justiça entre homens e mulheres.
E "nem tudo é invisível para os olhos" é uma concretização exitosa, em parte da rede pública, do que vem sendo elaborado no GEEMPA e no Projeto "Vira Brasília a Educação".
Que cada um dos leitores da Revista do GEEMPA seja um parceiro nesta caminhada rumo à redefinição da escola, a fim de que ela possa ser um dos espaços onde democracia se concretize, na oportunização de efetivas aprendizagens para todos."
Esther Pillar Grossi
(extraído do site do GEEMPA)
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